segunda-feira, 4 de abril de 2016

Do coração que quase lhe pertenceu,



por aqui sempre fora a temporada dos amores. amores frescos, desvairados e totalmente perecíveis; suscetíveis e tendenciosos ao fracasso. um coração teimoso que insistia em doar-se, mas em toda a sua existência jamais pertenceu. tinha dúzias e dúzias de amores em suas prateleiras; a coleção crescia diariamente, mas nem mesmo todo o conjunto infinito poderia lhe preencher por completo. era exatamente como um dia inteiramente nublado e que não chove. o café morno; o cigarro que incendiou-se por inteiro; a poesia já morta. era o quase que caminhava entre a interminável sedução efêmera e a felicidade instantaneamente eterna. era indecisão extremista que no desespero constante por abrigo, acabava por atirar-se ao léu e entregar-se à vida nômade e solitária das noites de desilusão. era o maior coração que já pulsou em todas as galáxias.

ps: nessa obsessão em pertencer, ficar e ser, não pertencia nem a si. Sentia que o universo era pequeno demais para comportar-lhe.

Autor: Kelven Figueiredo
Ilustração: Kelven Figueiredo.

Amor de furacão.



Da escada em espiral
já via a menina seu futuro,
sentada no telhado
admirando o vendaval
que destruía todo o seu jardim.
Sua horta, que era sempre verde,
antes coloria o quintal,
mas agora em ruínas jazia, encolhida
e a menina, coitada,
chorando em posição fetal
aguardou no telhado a noite
que lhe trouxe uma chuva de cometas
e, enquanto o céu desabava,
voava a menina, surreal.

Autor: H.
Ilustração: Leonardo

Por favor, não pare!



Seus dedos são habitados por uma infinidade de sensações inexplicavelmente prazerosas. Neles residem a essência da felicidade e o êxtase da realização humana, algo que jamais poderá ser transcrito e esgotado por toda a abrangência da linguagem verbal, afinal se trata de uma comunicação entre almas, uma conexão abstrata e onipresente entre nossos íntimos. Ao sentir o seu toque sou tomado e possuído pelo ápice da emoção, tudo ao redor se desmaterializa e toda a beleza e dignidade da sua existência ganha forma dentro de mim, sou inteiramente amplificado, tudo ganha uma nova dimensão, um novo sentindo, você inventa e reinventa minhas experiências, enquanto eu só suplico, por favor, não pare. Eu preciso do seu toque, ele me dá proposito e uma razão de sobrevivência, eu descubro nele algo pelo qual vale a pena lutar sem sacrifício, cada suor, cada dor, cada esforço é uma celebração gloriosa e que se apresenta orgasticamente festejada nas nuances mais peculiares do meu corpo.  Não há nada que eu anseie mais do que a nossa eternidade, então por favor, não pare, eu preciso de você, minha felicidade agora está na palma da sua mão e eu não a aceitarei de volta, porque a felicidade só é de fato felicidade quando você está presente nela, o resto são apenas alegrias momentâneas e que não suprem, nem suportam, a minha persona mais natural e profunda: você, porque não existo mais sem ti. Ainda em meio a esse excesso de eufemismos, sim, eufemismos, não há exagero em nada aqui, apenas uma partícula muito ínfima do que é de fato, eu peço que por favor, não pare, eu sou um ser doente, e você é a minha patologia ao mesmo passo que é a minha cura, nada pode desmoronar, corroer e putrefaz-me como você, no mesmo impasse em que nada pode me fazer tão radiante e vivo quanto você faz. Eu matei, sem ressentimentos, o meu eu, e agora sou apenas nós, o meu toque só faz sentindo se for tocado em você, a minha existência só faz sentindo se eu existir em você, então eu imploro novamente, por favor, não pare, não pare de ser você.

Autor: Jordan Dafné
Ilustração: Gabriel Souza

Sentir.



As palavras expressam o que pensamos, o que queremos dizer… Há palavras para tudo, menos para aquilo que sentimos. A gente sente demais; sente a dor do outro, sente amor, sente esperança, sente paz, sente medo, angústia, aflição… E isso acaba nos deixando atordoados. O barulho do mundo passa a tomar conta de nós e acabamos por não escutar isso que sentimos e que não podemos pronunciar. O que sentimos é o que nos define. Somos o que sentimos, se sentimos ódio e ressentimento, somos ódio e ressentimento. Quando sentimos a dor, passamos a ser a dor. Ela é algo muito difícil por em palavras. Mas, paradoxalmente, essa dor pode ser aliviada com palavras. Todo trauma é filho de outro trauma. E para superá-los, temos que atravessar a anestesia emocional. As dores traumáticas não conhecem analgésicos e só podem ser aliviadas quando entendemos isso que sentimos. Sendo assim, o vazio é um falso remédio que acalma por um tempo, mas depois, ele passa a sufocar e voltamos a ter a necessidade de sentir. Não existe um lugar para guardar a dor, ou placebo para nos acalmar, há apenas bocas, braços, mãos e olhos para expressarmos o que sentimos. A dor é um coração cru que só pode ser curada é colocada para fora. Além de que, quando isso não acontece, a gente acaba se perdendo e vamos parar numa prateleira qualquer de uma loja de achados e perdidos, ocos, sem emoção e reação. Machucados. E se o vazio não é preenchido e a dor expulsada pra fora, começamos a nos desintegrar e virar pó.

Autor: Bruno Cavalcante
Ilustração: Gabriel Souza

Cartel da Poesia.

O Cartel da Poesia é um de nossos parceiros. Conheça-os:

O Cartel é um blog voltado à divulgação de poesias, com o intuito de dar reconhecimento a grandes escritores, pois existem muitos talentos escondidos por aí que merecem vir à tona. Todos sabem que há um grande número de Tumblrs realizando esse tipo de divulgação, mas o diferencial do Cartel é que ele divulga três escritores por semana em categorias diferentes: Escritor da Semana, Poesia da Semana e Fã da Semana. O Tumblr em questão, também rebloga todos os dias autorias com a tag #ProjetoCartel e aceita contribuições por submit. Além disso tudo, ainda possui um projeto chamado ''Espalhando Poesias'', em que levam algumas autorias para as ruas apenas para alegrar um pouco o dia das pessoas com o menor e mais simples gesto possível, ou seja, levando poesia aos seus corações.