sexta-feira, 25 de março de 2016

Dos olhos que ardem,



da alma que queima desesperada no peito que explode; o ego que se autodestrói irradia o orgulho que se dobra; as mãos que enxugam as faces rubras; a boca aflita que mastiga a indiferença; a garganta rasa que engoliu a seco todas as mágoas que simplesmente não consegui gritar; os pulmões gastos em nicotina, tuberculose e asma, o fígado pútrido nadando em vinho barato e drinques aleatoriamente escolhidos em momentos de torpor. o coração em chagas que cresce descontroladamente e esmaga todo o resto na tentativa de se fazer maior do que pode ser, só para atender ao capricho de abrigar, inteiramente, esse sentimento que tenho a ti em meu ser. 

Autor: Kelven Figueiredo
Ilustração: Jonath Ferreira

28 dias.



Volta e meia,
rodando pela lua cheia
canta saltitante,
através da lua minguante
brilha colorida
e em cada dia se transforma
depois, some em lua nova.
Mas então,
tão de repente
volta aos poucos
uma lua crescente,
que passa por fases obscuras,
fases reluzentes,
entre marés de sizígia
e amores de quadratura
só existem três certezas na vida:
a morte, o sol e a lua.

Autor: H.
Ilustração: Leonardo

E se acabar?



Acabei percebendo que eu prefiro viver sozinho. Não é porquê eu goste, mas sim, porque eu tenho medo do amor. Tenho medo de começar a amar, depender desse amor e, de repente, ele acabar. Eu não sei reagir a finais pois sempre acabo indo junto também e já se foram tantas partes de mim, que o todo fica pequeno comparado a soma delas. É mais fácil ficar sozinho, entende? Porque, e se você acabar amando, ver que precisa dele e no fim acaba não o tendo? Como você reagiria? E se você gostar e acabar dependendo dele? E se tudo que você planejar em sua vida for em torno desse amor e ele acabar? Eu, particularmente, não conseguiria sobreviver a essa dor. Um amor acaba se tornando um coração fora do nosso corpo, e independente de qualquer coisa, ele bate em conjunto com o que está dentro de nós. Perder um amor é, então, como perder algo que nos ajudava a ficarmos vivos e sem ele, nós acabamos morrendo. Morremos e ao mesmo tempo o nosso corpo continua aqui. Bem aqui. Passa a existir. Tudo que gostávamos se transforma em algo chato. Tudo o que fazíamos passa a não ter mais sentido. Tudo o que sentíamos acaba evaporando. Mas sabe o que é pior? Finda-se tudo que éramos.

Autor: Bruno Cavalcante
Ilustração: Matheus Dantas

A temporada das cores se foi mais cedo nesta geração.



um arco íris preto e branco enfeita os céus enquanto tudo ao redor passa sem graça. sorrisos opacos não são suficientes para esconder suas almas sem vida, porque tornaram-se rasos e foram reduzidos a mera aparência. o medo de sofrer lhes impede de viver diariamente, por isso vestem suas máscaras pintadas de perfeição enquanto lamentam não serem bons o suficiente para encaixar-se em tantos padrões idealizados. a raça humana está amedrontada pelas traições, mentiras e ilusões que colecionaram ao longo dos milênios. estão presos num presente faz de conta em que transbordam alegria artificial durante o dia e choram as lamúrias de suas vidas miseráveis à noite. não conseguem estancar o sangramento interno ou controlar os danos; abandonaram-se com a desculpa de que o tempo os cicatrizaria. de acordo com newton, o somatório das forças se reduz a zero; e devido a tentativa de somar tudo, acabaram fadados à exclusiva existência, esquecendo-se de viver. os humanos têm essa estranha necessidade em se perder para só então se encontrarem. contudo, não se pode controlar as coisas que os deixam sem rumo. as pessoas estão paradas assistindo a vida que está sendo deixada para trás, ao invés de apenas aceitarem que acabou; então acabam se perdendo de novo. e tudo isto acaba se tornando um ciclo. não entendem que é preciso permanecer transponível para onde quer que o vento sopre depois.

Autores: Bruno Cavalcante e Kelven Figueiredo
Ilustração: Gabriel Souza