segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sentir.



As palavras expressam o que pensamos, o que queremos dizer… Há palavras para tudo, menos para aquilo que sentimos. A gente sente demais; sente a dor do outro, sente amor, sente esperança, sente paz, sente medo, angústia, aflição… E isso acaba nos deixando atordoados. O barulho do mundo passa a tomar conta de nós e acabamos por não escutar isso que sentimos e que não podemos pronunciar. O que sentimos é o que nos define. Somos o que sentimos, se sentimos ódio e ressentimento, somos ódio e ressentimento. Quando sentimos a dor, passamos a ser a dor. Ela é algo muito difícil por em palavras. Mas, paradoxalmente, essa dor pode ser aliviada com palavras. Todo trauma é filho de outro trauma. E para superá-los, temos que atravessar a anestesia emocional. As dores traumáticas não conhecem analgésicos e só podem ser aliviadas quando entendemos isso que sentimos. Sendo assim, o vazio é um falso remédio que acalma por um tempo, mas depois, ele passa a sufocar e voltamos a ter a necessidade de sentir. Não existe um lugar para guardar a dor, ou placebo para nos acalmar, há apenas bocas, braços, mãos e olhos para expressarmos o que sentimos. A dor é um coração cru que só pode ser curada é colocada para fora. Além de que, quando isso não acontece, a gente acaba se perdendo e vamos parar numa prateleira qualquer de uma loja de achados e perdidos, ocos, sem emoção e reação. Machucados. E se o vazio não é preenchido e a dor expulsada pra fora, começamos a nos desintegrar e virar pó.

Autor: Bruno Cavalcante
Ilustração: Gabriel Souza

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