segunda-feira, 4 de abril de 2016

Do coração que quase lhe pertenceu,



por aqui sempre fora a temporada dos amores. amores frescos, desvairados e totalmente perecíveis; suscetíveis e tendenciosos ao fracasso. um coração teimoso que insistia em doar-se, mas em toda a sua existência jamais pertenceu. tinha dúzias e dúzias de amores em suas prateleiras; a coleção crescia diariamente, mas nem mesmo todo o conjunto infinito poderia lhe preencher por completo. era exatamente como um dia inteiramente nublado e que não chove. o café morno; o cigarro que incendiou-se por inteiro; a poesia já morta. era o quase que caminhava entre a interminável sedução efêmera e a felicidade instantaneamente eterna. era indecisão extremista que no desespero constante por abrigo, acabava por atirar-se ao léu e entregar-se à vida nômade e solitária das noites de desilusão. era o maior coração que já pulsou em todas as galáxias.

ps: nessa obsessão em pertencer, ficar e ser, não pertencia nem a si. Sentia que o universo era pequeno demais para comportar-lhe.

Autor: Kelven Figueiredo
Ilustração: Kelven Figueiredo.

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